O Atlas da Violência 2025, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), revelou que o Brasil registrou 45.747 homicídios em 2023, a menor taxa em 11 anos. O índice foi de 21,2 homicídios por 100 mil habitantes, representando uma redução de 2,3% em comparação a 2022. No entanto, o estudo destacou um aumento de 2,5% nos homicídios femininos entre 2022 e 2023, contrariando a tendência geral de queda.
De acordo com o Ipea, as menores taxas de homicídios por 100 mil habitantes foram registradas nos estados do Sul, São Paulo, Distrito Federal e Minas Gerais. Em contrapartida, as regiões Norte e Nordeste apresentaram as maiores taxas. A redução geral da violência letal no Brasil pode ser atribuída a fatores como a transição demográfica, a diminuição da rivalidade entre facções criminosas e mudanças nas políticas de segurança pública, que agora priorizam planejamento e prevenção social.
Entre 2013 e 2023, 8,6% das mortes por causas externas não tiveram a intencionalidade identificada, resultando em 135.407 mortes violentas por causa indeterminada (MVCI). Estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia concentraram 66,4% dessas ocorrências. Utilizando aprendizado de máquina, o Atlas estimou que ocorreram 51.608 homicídios ocultos no Brasil nesse período, uma média anual de 4.692 homicídios não contabilizados.
Após a divulgação do Atlas da Violência de 2024, diversas Unidades Federativas se mobilizaram para melhorar a qualidade dos dados, reduzindo as MVCI. No Espírito Santo, por exemplo, a criação de um grupo de trabalho resultou na redução dos homicídios ocultos de 205 casos em 2022 para apenas sete em 2023, a menor taxa do país.
Em 2023, 34% das mortes de jovens entre 15 e 29 anos foram classificadas como homicídios. No total, 47,8% dos assassinatos no Brasil tiveram vítimas nessa faixa etária, o que equivale a uma média de 60 jovens mortos violentamente por dia. Entre 2013 e 2023, 312.713 jovens foram vítimas de violência letal no país, com 94% das vítimas sendo do sexo masculino.
Entre crianças e adolescentes, 2.124 crianças de 0 a 4 anos foram assassinadas entre 2013 e 2023. Nesse período, 6.480 crianças e adolescentes entre 5 e 14 anos e 90.399 entre 15 e 19 anos também foram mortos. As armas de fogo foram o instrumento mais frequente nos homicídios de jovens de 15 a 19 anos, enquanto instrumentos desconhecidos foram mais comuns entre as vítimas de até 4 anos.
O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde registrou um aumento de 36,2% nas notificações de violência não letal contra crianças e adolescentes entre 2022 e 2023, totalizando 115.384 atendimentos. O crescimento mais expressivo foi nas notificações de violência física entre crianças de 0 a 4 anos, com um aumento de 52,2% no período.
O aumento da violência doméstica e intrafamiliar pode ter impactos severos na saúde mental das crianças e adolescentes, contribuindo para o aumento de suicídios. Entre 2013 e 2023, houve um aumento de 42,7% no número de suicídios entre jovens, totalizando 11.494 casos.
Recortes demográficos e violência no trânsito
O Atlas também destacou que, em 2023, foram registrados 35.213 homicídios de pessoas negras, uma variação de -0,9% em relação ao ano anterior. Pessoas negras tinham 2,7 vezes mais chances de serem vítimas de homicídio do que pessoas não negras. A taxa de homicídios entre povos indígenas foi de 22,8 por 100 mil habitantes, superior à média nacional.