Após quatro temporadas disputando a Superliga, nova contratação do Osasco comemora sua representatividade como atleta trans no meio esportivo. Com a quarta colocação do Sesi-Bauru na Superliga Feminina, Tifanny Abreu encerrou seu quarto ano consecutivo competindo na elite do vôlei brasileiro. A jogadora, nova contratação do Osasco para a próxima temporada, comemora muito a vitória contra o preconceito com atletas trans, batalha na qual tem a certeza de ser protagonista. Nesse período, a ponteira viu muitas barreiras caírem.
O que mudou nesse tempo, primeiramente, foi a forma como as pessoas olhavam para a atleta Tiffany. Tinha muito mais preconceitos por não entenderem o que era a mulher trans no esporte. Hoje a aceitação de atletas e dirigentes de outras equipes é normal. As portas estão começando a se abrir, estão vendo através de estudos que não somos ameaça para ninguém, a gente só quer ter nosso espaço. Quase desisti, mas se eu não resistisse outras meninas trans jamais teriam uma chance no futuro – afirma a jogadora, a única brasileira a estrelar a campanha mundial da Adidas ao lado de atletas como Paul Pogba, Mohamed Salah, Siya Kolisi e a cantora Beyonce.
Pouco a pouco, a ponteira virou símbolo da luta de atletas trans e da comunidade LGBTQI+. Muitas meninas de muitos esportes me procuram para saber como entrar no esporte. Se todas elas estão dentro das regras, ninguém pode ir contra. Temos o caso de várias atletas de outros esportes, como da minha amiga, a Sheilla Souza, do futebol, além de atletas de outros esportes, como ciclismo e atletismo que estão lutando pelo seu espaço. Quando eu jogava vôlei por um prato de comida eu pensei se era isso mesmo que eu queria, e hoje estou aqui jogando profissionalmente – diz, orgulhosa.
Apesar de já existir a autorização da Federação Internacional de Vôlei para a participação de uma atleta trans nas seleções, ela não foi convocada por José Roberto Guimarães.
– Já tivemos contato, especialmente nas finais da Superliga, lá na bolha de Saquarema. As seleções já podem contar com uma atleta trans, mas eu não fui chamada porque talvez eu não esteja no nível de algumas meninas. Agora é continuar fazendo meu trabalho, o Zé Roberto é um tricampeão olímpico e não podemos duvidar da capacidade dele de fazer a melhor convocação possível. Com formato de bolha ele não pode levar tantas atletas para treinamentos – acrescenta.
O assunto “seleção brasileira ” está longe de ser um tormento para Tifanny, que fala com alegria sobre sonhos ainda maiores.
– Quero estar ao lado de uma pessoa trans campeã olímpica. Este é meu sonho. Claro que eu queria jogar uma Olimpíada, mas quero muito ver uma mulher trans campeã olímpica e celebrar ao lado dela. Quero ver pessoas praticando o esporte sem ser crucificada pela sua cor, raça, gênero ou sexualidade. Quero um esporte igualitário para todos.
Fonte: ge.com /Erica Hideshima
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