Time alemão vai enfrentar o Chelsea por vaga na decisão da Champions League: “Elas estão um passo à frente, mas numa semifinal tudo pode acontecer”
É difícil imaginar o Bayern de Munique comemorando a passagem para a semifinal de uma competição como um objetivo alcançado. Mas como no futebol feminino a história ainda está sendo construída pela maioria dos grandes clubes, o sentimento no gigante alemão é de que a semifinal da Liga dos Campeões feminina, a segunda nos últimos três anos, representa a confirmação do crescimento da equipe.
Ainda assim, o DNA vencedor do clube bávaro sempre fala mais alto. Em entrevista exclusiva ao ge, por vídeo-chamada, a diretora esportiva do Bayern Feminino, Bianca Rech, garante que o time está longe de se satisfazer com o que já alcançou e vai em busca do título inédito.
– Quando você chega à semifinal, está a um passo da decisão. São jogos que vão ao limite, a intensidade é tão alta que tudo pode acontecer – afirmou a ex-jogadora alemã.
– Se me dissessem no início da temporada que estaríamos na liderança do Alemão e na semifinal da Champions League, eu diria “onde eu assino?”. Não era esperado. O plano que temos é de longo prazo, mas estamos em um bom caminho. Vamos ver onde estaremos no fim da temporada.
O adversário do time alemão na semifinal é o Chelsea, líder do Campeonato Inglês e uma das principais forças da atual temporada na Europa. O jogo de ida será neste domingo, em Munique, e a volta, em Londres, no dia 2 de maio.
– Nós estamos crescendo como time, temos confiança. Estes próximos jogos são os que você realmente gosta de jogar – observou a dirigente.
– Acho que o Chelsea é um time incrível, com jogadoras de alto nível, e acho que elas estão na nossa frente em termos de qualidade, mas ainda assim acho possível vencê-las.
A Champions League Feminina terá um campeão inédito este ano. A outra semifinal reúne dois finalistas recentes, Barcelona e Paris Saint-Germain, ambos derrotados na decisão pelo poderoso Lyon, em 2019 e 2017, respectivamente.
O PSG realizou no último domingo o sonho de todos os grandes europeus: superou o rival francês nas quartas de final, interrompendo uma sequência de cinco títulos seguidos do Lyon e redefinindo o favoritismo para a reta final deste ano.
Distância para o Lyon é menor hoje, acredita Bianca
– Talvez a gente esteja ficando cansado de ver sempre o Lyon vencendo. É um pouco chato, queremos ver outro time ganhando o título – brincou Bianca.
– Todos os times ficaram mais profissionais. Há algum tempo, ninguém podia alcançar o Lyon, agora a distância está ficando cada vez menor. Há muitos grandes times, como Barcelona, Manchester City, Chelsea, PSG… eles têm muita qualidade no elenco. Há muitos times que podem lutar pelo título – completou.
Mesmo fora da disputa, o maior vencedor da Champions League, com sete títulos, todos conquistados na última década (2011, 2012, 2016, 2017, 2018, 2019 e 2020), ainda é a referência na Europa. E é justamente na comparação com o Lyon que Bianca vê o crescimento do Bayern Feminino.
– O nosso time feminino tem agora uma nova estrutura, existe a possibilidade de diminuir essa distância. Nós treinamos no FC Bayern Campus, que foi construído em 2017. E as condições de infraestrutura, academia, tudo que temos lá, eu acho que posso dizer que nossa estrutura é uma das maiores da Europa, até mesmo comparável à do Lyon.
Natural de Bad Neuenahr, na antiga Alemanha Oriental, Bianca Rech começou a carreira no SC 07, time da sua cidade natal, e logo chamou a atenção do FFC Frankfurt, uma das equipes mais tradicionais do futebol feminino alemão. Em 2002, foi campeã da primeira edição da Champions League Feminina, então chamada de Copa da Uefa.
– Foi um sentimento incrível. Os melhores clubes competiram naquela edição, e nós vencemos em casa, em frente à nossa torcida. Havia muitos torcedores, apesar do tempo ruim naquele dia. Foi a primeira edição, e jogar finais como aquela era impressionante – relembra ela, citando a vitória por 2 a 0 na decisão contra o Umea, time sueco que viria a ser campeão europeu nas duas edições seguintes, a última delas liderada pela brasileira Marta.
Em quatro temporadas no Frankfurt, Bianca conquistou também três títulos alemães e três Copas da Alemanha. Passou pelo Sunnaná SK, da Suécia, antes de retornar ao país para jogar quatro anos no Bayern de Munique, entre 2006 e 2010.
Alemanha é recordista de títulos na Champions Feminina
Aos 40 anos, a ex-jogadora comanda o departamento de futebol do Bayern feminino há quatro temporadas, e hoje se orgulha de ver o time à frente de rivais com longa história no cenário local. A Alemanha é o país com mais títulos da Champions Feminina, com nove conquistas: quatro do FFC Frankfurt (hoje Eintracht Frankfurt), dois do Wolfsburg, dois do Turbine Potsdam e um do Duisburg).
Dominante no futebol masculino alemão, o Bayern começa a ganhar protagonismo também com as mulheres. Em 2019, chegou pela primeira vez à semifinal da Champions, e foi eliminado pelo Barcelona, com duas derrotas por 1 a 0.
– Não conseguimos há dois anos contra o Barcelona, mas foi incrível. A gente sentiu como poderia ser estar na final – comentou.
Duas vezes campeão alemão (2014/15 e 2015/16), e vice nas últimas quatro edições, sempre atrás do Wolfsburg, o Bayern lidera a atual edição da Frauen Bundesliga, dois pontos à frente do rival. Faltam quatro jogos para o fim, incluindo o clássico contra as Lobas, fora de casa, na antepenúltima rodada.
– Quando cheguei em 2017 como diretora esportiva, percebi que trabalhávamos mas não tínhamos uma meta, onde queríamos estar nos próximos anos. Nós colocamos a estratégia na mesa, isto é o que queremos fazer para ter sucesso, e nesta temporada nós podemos realmente ver o primeiro passo.
“A invisibilidade é um problema no futebol feminino”, diz Bianca
Além do próprio centro de treinamento, o Bayern adotou de vez o profissionalismo na equipe feminina adulta, além de manter um time sub-21 e duas equipes sub-17.
– Não temos espaço para outras categorias, mas a principal razão para não termos equipes abaixo da sub-17 é que nós temos muitos times amadores na região de Munique, onde as meninas podem se desenvolver.
Os planos de Bianca Rech para o Bayern passam também pelo desenvolvimento da modalidade. Apesar do crescimento mundial do futebol feminino desde a última Copa do Mundo, em 2019, a dirigente sabe que ainda há muito a fazer, principalmente para derrubar a barreira do preconceito e da falta de divulgação do esporte.
– A invisibilidade é um problema no futebol feminino. Precisamos ter mais visibilidade, mais jogos na TV, precisamos usar mais as redes sociais, é algo que ajuda, na minha opinião, mas precisamos da TV também. O futebol feminino está crescendo, mas precisamos crescer mais. Este é o plano, e vamos conseguir.
Fonte: G1.com /Por Allan Caldas — Munique, Alemanha
Foto:Jogadoras do Bayern de Munique comemoram um gol no FC Bayern Campus, onde o time manda seus jogos — Foto: Getty Images