Nas últimas duas décadas, a ideia de economia solidária assumiu uma posição proeminente no discurso de políticos, de acadêmicos e das lideranças de ações coletivas no Brasil, engendrando uma defesa apaixonada de seus pressupostos e de suas práticas como alternativas às ofensivas do capitalismo. A importância da ideia é tão marcada que na primeira década do século XXI, o Governo Federal criou uma secretaria com esta rubrica, para implantar políticas de fomento às ações de economia solidária.
Há uma vasta literatura que identifica as origens comuns das associações e cooperativas de trabalhadores, localizando-as num conjunto de ideias e práticas que floresceram na Inglaterra e na França, a partir do final do século XVIII. Assim, o surgimento das diferentes formas associativas de trabalhadores consistiria em uma estratégia de reação do movimento operário às condições de extrema exploração do trabalho, promovidas pelo desenvolvimento do capitalismo industrial na Europa.
Segundo parte da literatura brasileira que focaliza a economia solidária, cuja produção se tornou mais densa a partir da primeira década do século XXI, algumas experiências foram inspiradas por uma tradição de pensamento designado de socialismo utópico, preconizando um conjunto de ideias e propostas associativistas e cooperativistas que envolviam a supressão da propriedade privada dos meios de produção e da acumulação financeira, defendendo a redistribuição da riqueza e apontando um projeto político alternativo ao modo de produção capitalista.
Todavia, não há consenso sobre o assunto. Há discursos que problematizam a visão romantizada que acompanha alguns defensores da economia solidária. O conteúdo mais geral desta crítica aponta a economia solidária e suas formas terminais de manifestação (como o cooperativismo) como estratégias de reprodução do capital num contexto de acumulação flexível.
Traçado este breve panorama, que revela a existência de posições antagônicas, buscaremos nos próximos textos explicitar alguns elementos basilares que conformam esta oposição, apresentando, no próximo texto, os discursos em favor da economia solidária, para, em seguida, apresentar os conteúdos de sua crítica.
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Agripino Coelho Neto é Doutor em Geografia pela Universidade Federal Fluminense – UFF.
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